Les rumeurs qui tuent

Publié le par Pascal



 
Salut tout le monde,  je  vous fais parvenir un article  que j'ai  écrit  au mois de novembre lors d'un voyage au Portugal. Il vient d'être publié dans le numéro du 10 Janvier du " O Eco" le journal local de Pombal, une petite ville portugaise située à quelques pas du village de mes parents.

J'y règle mes comptes avec les as à saints et tous ceux qui nous tuent à petit feu avec leurs mauvaises paroles.

Si le ton est un peu excessif, c'est qu'il est à la hauteur de ma révolte intérieure. Si les mots débordent, c'est pour ne pas périr noyé dans la fureur.

La concierge portugaise ne me fait plus rire.

J'essaierai de faire bientôt une traduction pour les non-lusophones.





OS BOATOS QUE MATAM


Eu sou filho de emigrante.
Nasci em França mas os meus pais são de Gafaria, um pequeno povoado que pertence à freguesia de Vermoil. Os meus antepassados estão lá sepultados no cemitério municipal e quando chegar a minha hora, o meu desejo é que o meu corpo também pertença a essa terra. Por isso mesmo, acho inteiro e legítimo o meu direito, e até mesmo o meu dever, de denunciar as mentalidades de outra época que persistem em corromper algumas almas desta aldeia.

Infelizmente, o meu pai matou-se no final do passado mês de Março. A minha dor, bem como a da minha família foram imensas. A incompreensão e a culpabilidade, encheram-nos como enchem todos os que são um dia confrontados nas suas carnes, no caso bem particular do suicídio.
Os dias e os meses passaram, remámos como pudemos contra a maré, mas foi sem contar com as ondas de boatos que entretanto chegaram, pouco a pouco à praia dos nossos ouvidos. Esses rumores trouxeram uma dor terrível porque vinham de alguns dos nossos vizinhos, amigos e até mesmo parentes, percorrendo assim os dois mil quilómetros entre Vermoil e Paris, no avanço lento, mas seguro duma caravana moura no deserto.
Fomos acusados de não ter visto e de não ter feito nada para ajudar o meu pai, de não respeitar os códigos subtis do luto à moda portuguesa, de gastar todo o dinheiro que o meu pai se tinha sacrificado para ganhar. Fomos alvos das piores calunias, que nem vale a pena descrever aqui para não desperdiçar estas tão preciosas folhas de papel. E mesmo assim, só foi a ponta do iceberg.
 
Ouçam: quem se pode outorgar do direito de penetrar na intimidade duma família? Quem se pode permitir de entrar em assuntos onde não conhece nada? Quem pode julgar e brincar duma maneira tão cruel com a tristeza dos que sofrem, em vez de os ajudar?
Ninguém, pois como toda gente sabe, cada um deve varrer em frente a sua casa antes de varrer na dos outros.

"Não julgueis para não serdes julgados, pois conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados (...) Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então verás melhor para tirar o argueiro da vista do teu irmão." (Livro de São Mateus 7,1-5).
Assim falava Jesus, já testemunha no seu tempo do perverso estremecer da língua das víboras. Pelos vistos, a santa palavra ainda não teve tempo de chegar a todos os ouvidos de Vermoil, mesmo depois de dois mil anos de intensa "educação" bíblica e católica. Talvez os padres não estejam tão dispostos como o pretendem a difundir a boa palavra, ou talvez a cera enfiada nas orelhas dos meus compatriotas seja duma dureza bem especial? De que serve confessar os seus pecados ao se entrar numa igreja, se é para cometer já outros ao sair, falando mal do seu próximo? Essa não é a boa religião de amor e de respeito que os meus pais me ensinaram.

 
 
Só a minha mãe, os meus irmãos e eu podemos saber o calvário que foram os meses, os anos que passámos a tentar extrair o meu pai da escuridão, da má orientação do seu espírito.
Ele lutou e nos lutámos, mas o mal tinha raízes profundas demais para serem alcançadas, tal que nem as medicinas, nem os psiquiatras que contratámos o puderam curar.
O "bem parecer", este veneno que mata de morte lenta, tinha-lhe sido enfiado insidiosamente desde pequeno, dias após dias, anos após anos, pela sociedade na qual tinha sido criado. Ele sabia mais do que ninguém como funcionava, e sempre funcionará o sistema. Ele sabia quanto os Homens, e ainda mais os portugueses das pequenas aldeias, gostam de falar, julgar, picar, atacar, marginalizar, ridiculizar todo comportamento que sai fora da linha, da norma imposta pelas partes mais arcaicas da tradição. Por ter um coração grande demais, sofria muito, quando ele ou qualquer elemento da sua família, era vítima da ruindade e da inveja do julgamento popular. Assim, para proteger-se e proteger-nos, escolheu a defesa que só lhe restava: agradar aos outros antes de agradar-se à si, ou seja Parecer antes de Ser.
Caiu e caímos todos na cilada, tanto que, conseguindo parecer tão bem até ao final, nos pareceu impensável a possibilidade dum suicídio. É por isso mesmo que a notícia da sua despedida foi um choque tão grande para todos os que conheceram sua força e alegria de viver, ou melhor, para todos os que pensavam conhece-lo.


 
Em verdade vos digo, são os boatos que matam. As pessoas que hoje nos acusam são as mesmas que condenaram à morte o meu pai porque espalharam e continuam a espalhar a má semente do Parecer e das palavras injustas.
Não darei nem detalhes, nem nomes para não alimentar à minha vez a máquina infernal. Deixo cada um enfrentar em alma e consciência, a sua culpabilidade ou inocência no caso presente. Ademais, quem sou eu para julgar? Todos sabemos que só a Deus pertence este direito sagrado.
 
Se Deus existir, eu tenho uma fé absoluta na sua justiça, e é isso que me dá ainda um pouco de alegria. Um homem pode ser enganado, mas ninguém pode enganar a Deus. A Verdade vence sempre. Hoje em dia, tenho a certeza que o meu pai descansa em paz, porque era um Homem profundamente bom, um Homem que sempre tentou ser o melhor que pôde. Quanto aos apostoles do "bem parecer", os discípulos do Rumor, os que andam muitas vezes por ai disfarçados em santos, teimo que fiquem um pouco surpreendidos quando por certo ouvirão da voz do senhor na hora do ultimo julgamento: "Repito-vos que não sei de onde sois. Apartai-vos de mim todos os que praticais a iniquidade. Lá haverá pranto e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas no Reino de Deus, e vos serdes postos fora" (Livro de São Lucas 13, 27-29).
 


 
Agora, já falta pouco a acrescentar, resignado que estou em sempre ver os melhores partirem e os piores ficarem, apodrecendo a terra, a alma e o coração dos homens.
Possa este grito conseguir devolver todo o silencio, respeito e dignidade que merecem a memória do meu pai assim como o luto da minha família.
Possam estas palavras aliviar um pouco todos os que sofrem da ruindade dos boatos, sejam os que forem.
Possam alguns ainda serem salvos. Nunca é tarde para pedir perdão.




                                                                                                                                P.R.

 



Publié dans La route

Pour être informé des derniers articles, inscrivez vous :
Commenter cet article
T
Pascal,j'ai relu ton texte ces derniers jours et je suis touché par sa force.Ta volonté de t'élever contre cette hypocrisie ambiante, les "pharisiens" de Vermoil, est une démarche saine et nécessaire. Tu dis dans ton texte, que la sainte parole n'a pas encore eu le temps d'arriver à toutes les oreilles de Vermoil peut être parce que les prêtres n'y sont pas réellement disposés à défendre cette bonne parole... pour avoir "rencontré" l'institution catholique locale au moment du départ de ma mère, je oeux te dire aussi qu'à aucun moment, je n'ai rencontré l'évangile, dans aucun mot, aucun geste, pas même un regard... je l'ai cherché mais je n'ai rencontré que l'aigreur, la suffisance et le pouvoir autocratique, asphyxiant d'un prêtre roitelet de village. Mon cousin Victor qui n'est pas un habitué des églises et se dit volontier inculte en matière de foi, m'a tenu ces propos quelque temps après la cérémonie désastreuse : "j'ai eu le sentiment que c'était faux, qu'il se trompait, que ce n'était pas du tout ça...". Nul doute qu'un tel homme ne sème pas les graines de l'évangile et de la vérité mais bien celles de la crainte qui génère le mépris, la haine de soi et des autres. Je veux te dire merci pour ce que tu es, pour la mémoire de ton père que tu défends, pour la justice, pour la foi que tu me rends. Dans le coeur de Dieu... ils reposent en paix.
Répondre